terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sem entrega não há vida

.
Pessoas que não se entregam vivem relações superficiais e sem graça
.
A entrega, o dar-se a conhecer, é muito importante para o crescimento tanto dos companheiros quanto da relação. Mas existem pessoas que, por medo ou por egoísmo, escondem do outro os próprios sentimentos. Assim, não se envolvem e acabam por viver uniões sem vida, que não se sustentam. Como controlam tudo e não se arriscam, também dificilmente aprendem a amar.
Há várias razões para que alguém receie entregar-se, como o medo de sofrer. Mas existem aqueles que, egoístas, evitam a entrega manipulando e controlando o parceiro.
As nossas ações são motivadas por pensamentos conscientes e inconscientes, por sentimentos e emoções. Alguns, como respeito e ternura, são considerados "positivos"; outros, como ciúme e raiva, são considerados "negativos". Todos contribuem para relações vivas e dinâmicas.
Quando não há entrega, a pessoa "esconde" atitudes e pensamentos tidos como negativos ou que depõem contra si. Se os expõe, fá-lo de modo a culpar o outro por eles. É o que ocorre quando alguém diz: "Tu dás-me raiva", ou "Tu fazes de tudo para me provocar ciúmes!"
Quem se entrega responsabiliza-se por atitudes, ações e sentimentos manifestando-os sempre que necessário para a saúde da relação. Assume o que é virtuoso e o que não é. Dá-se a conhecer. Se um homem assume que é ciumento e que o seu jeito de interpretar e lidar com os fatos pode ser mau para a união, dirá algo assim à namorada: "Tenho ciúmes quando te ouço falar com Fulano ao telefone. A minha cabeça cria fantasias sobre vocês, tenho raiva e vontade de brigar contigo. Gostaria de não me sentir assim, tento evitar estes pensamentos, mas sentiria-me bem melhor se me ajudasses. O que podemos fazer a respeito disto que eu sinto?"
Neste caso, não culpa a mulher pelo que pensa e tem vontade de fazer. Não a critica nem toma uma atitude unilateral. Sabe que o ciúme pode ser fruto da sua maneira de ver as coisas. Ao assumir-se assim, ele entrega-se. Coloca parte de si nas mãos do outro, faz um investimento afetivo. Como na área financeira, os investidores afetivos não gostam de correr riscos desnecessários, por isso quem se entrega, compromete-se e espera compromisso da outra parte.
Se a mulher for egoísta e manipuladora, não quererá envolvimento. Controlará a própria entrega "seleccionando" o que dá a conhecer. Mostrará o que não a compromete. Também pode manipular a entrega do namorado para não se sentir ameaçada e pressionada a expor-se mais do que gostaria.
Isso cria o clima de desconfiança que caracteriza a "não-relação" superficial e morna que não se sustenta. Egoístas não querem relações consistentes, assustam-se com o compromisso, temem perder uma ilusória liberdade. Digo ilusória porque alguém que não se permite a entrega está encarcerado em si. Quem teme não ser aceite não é livre, não "se solta".
Pessoas assim costumam dizer que desejam só "o lado bom" das relações, por isso ficam no meio termo: não se entregam nem rompem. Não estão no branco nem no preto. Ficam no cinza, sem vida, sem a intensidade das emoções. Quando a relação se constrói pelo investimento de ambos, tem crises como qualquer outra, mas o casal não teme momentos difíceis, tem confiança na parceria.
A entrega é uma atitude, é acreditar em si e apostar no outro. Mas, dirá o leitor, como apostar no que é desconhecido? É verdade. Temos medo de sofrer e receamos entregar-nos a alguém que não conhecemos e que pode nos magoar. Mas se não enfrentamos o medo, como podemos saber se a pessoa que escolhemos é confiável? Se não nos entregamos, porque esperamos a entrega do outro, como podemos ser valorizados? Se não assumimos riscos e ousamos na medida da nossa capacidade de suportar o sofrimento, como vamos valorizar a entrega do outro? De que outra forma aprenderíamos a amar?
.
.
.

2 comentários:

  1. Fantástico! Concordo totalmente.
    É nessa entrega de ambas as partes que se adquirem verdadeiras riquezas que nos tornam mais fecundos e mais profundos.
    Gostei!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Se essa é a base de uma profunda amizade, como é que se pode fugir a esse tipo de entrega no Amor, certo?

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.