
1. O COMPORTAMENTO PASSIVO caracteriza-se pela VIOLAÇÄO DOS DIREITOS DO PRÓPRIO, QUER QUANDO NÄO EXPRESSAMOS OS NOSSOS PENSAMENTOS, SENTIMENTOS E OPINIÖES DE FORMA CLARA, PERMITINDO QUE OS OUTROS DOMINEM A SITUAÇÄO, QUER QUANDO EXPRESSAMOS OS NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS DE FORMA TÄO APOLOGÉTICA, SUBMISSA OU AUTO DEPRECIATIVA, QUE OS OUTROS PODEM FACILMENTE ENTRAR EM DESACORDO CONNOSCO E ATÉ MESMO HUMILHAR-NOS.
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A mensagem envolvida é: "EU NÄO CONTO, PODEM APROVEITAR-SE DA SITUAÇÄO. OS MEUS SENTIMENTOS NÄO SÄO IMPORTANTES, APENAS OS VOSSOS. OS MEUS PENSAMENTOS SÄO INSIGNIFICANTES, OS VOSSOS SÄO OS UNICOS QUE VALE A PENA TER EM CONTA. EU NÄO SOU NINGUÉM, VOCÊS SÄO SUPERIORES."
Este comportamento revela falta de respeito pelas necessidades e direitos do próprio, mas também uma falta de respeito subtil pela capacidade do outro de assumir responsabilidades, ultrapassar decepções, resolver os seus próprios problemas, etc.
O objectivo básico da atitude passiva é apaziguar e agradar aos outros, evitando conflitos a todo o custo.
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O objectivo usual da agressividade é dominar e vencer, forçando a outra pessoa a perder. Vencer é conseguido humilhando, denegrindo, subestimando as outras pessoas, de forma que se sintam mais fracas e menos capazes de se expressarem e defenderem as suas necessidades e direitos.
A mensagem básica envolvida é: "ISTO É O QUE EU PENSO, VOCÊS SÃO ESTÚPIDOS POR ACREDITAREM EM QUALQUER COISA DIFERENTE. ISTO É O QUE EU QUERO, O QUE VOCÊS QUEREM NÃO É IMPORTANTE. ISTO É O QUE EU SINTO, OS VOSSOS SENTIMENTOS NÃO CONTAM."
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A mensagem básica envolvida no comportamento assertivo é: "ISTO É O QUE EU PENSO, ISTO É O QUE EU SINTO, ESTA É A FORMA COMO EU ENCARO A SITUAÇÄO." No fundo é uma mensagem que revela "quem a pessoa é", e que é emitida sem pretender dominar, humilhar ou denegrir a(s) pessoa(s) a quem se dirige.
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"Uma senhora tenta desesperadamente arranjar lugar num voo para ir visitar a mãe que está no hospital. A fila no balcão de reservas é longa. Aproxima-se de um senhor que aguarda a sua vez no início da fila e diz-lhe, apontando para o seu lugar:
"MEU CARO SENHOR, IMPORTA-SE DE TROCAR DE LUGAR COMIGO? NÄO LHE FARIA UM PEDIDO DESTA NATUREZA SE NÄO FOSSE TÄO URGENTE, POR MOTIVOS FAMILIARES, QUE EU CHEGUE HOJE MESMO AO PORTO..." O senhor, depois de a olhar atentamente, acena que sim. No final ambos acabam por conseguir lugar nesse voo.
Neste exemplo a senhora demonstrou auto-respeito pelas suas próprias necessidades ao perguntar ao senhor se está disposto a ajudá-la e trocar de lugar com ela; igualmente mostra respeito pelo direito que ele tinha de recusar o seu pedido e não a ajudar.
Mas, perguntar-se-á, como pode o respeito pelo próprio e pelos outros estar presente na recusa de um pedido? Tal depende em grande parte da forma como a recusa ao pedido for feita. Um pedido pode ser recusado de forma agressiva:
"QUE IDEIA É ESSA DE TROCAR DE LUGAR? TEM UM DESCARAMENTO!". Este tipo de recusa envolve respeito num só sentido, isto é, respeito pelo direito do próprio recusar, mas não respeita o direito do outro pedir.
Um pedido também pode ser recusado de forma passiva: "COMO É QUE LHE HEI-DE EXPLICAR... SINTO-ME HORRIVEL MAS NÄO LHE POSSO DAR O LUGAR...". Neste caso, a pessoa recusa o pedido mas fá-lo de forma que denota falta de auto respeito: sugere que o próprio é uma pessoa horrível, que nunca deveria recusar o pedido que lhe foi feito. Além disso, a recusa passiva também não respeita o direito que a outra pessoa tem de ser tratada como alguém capaz de lidar com a decepção.
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"GOSTARIA DE A PODER AJUDAR, MAS REALMENTE TAMBÉM NECESSITO MUITO DE CHEGAR HOJE". A recusa assertiva demonstra os dois tipos de respeito: auto-respeito, na forma auto-confiante como a recusa é feita, e respeito pelo direito da outra pessoa fazer o pedido.
Os objectivos da asserção são uma boa comunicação e a mutualidade, isto é, ser respeitado e respeitar, pedir com "fair play" (sensibilidade e bom senso) e elegância, deixando espaço para uma solução de compromisso quando as necessidades e direitos de ambas as partes entram em conflito. Nas situações de compromisso, por definição nenhuma das pessoas sacrifica a sua integridade básica e ambas vêem algumas das suas necessidades satisfeitas. O compromisso pode assumir a forma duma solução em que uma das pessoas vê as suas necessidades imediatamente satisfeitas enquanto que a outra terá as suas um pouco mais tarde – um casal chega a um compromisso deste tipo, acordando que num fim-de-semana vai ao cinema e no seguinte vai dançar. O compromisso também se pode traduzir no facto de ambas as pessoas cederem um pouco – os dois amigos concordam que nessa noite vão ao cinema e depois vão dançar.
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As componentes não verbais dos comportamentos passivo, agressivo e assertivo são tão importantes, ou mesmo mais, do que os componentes verbais que temos vindo a discutir. As investigações feitas têm provado que a maior parte da comunicação que efectuamos é levada a cabo de forma não verbal. Pense por uns instantes como a frase "Gosto imenso de ti" pode ser dita de maneira sincera, ou como um comentário sarcástico... simplesmente através da modificação de aspectos como a entoação vocal, a expressão facial e os gestos. Da mesma forma, uma frase assertiva do ponto de vista verbal, pode resultar numa afirmação passiva ou agressiva devido aos componentes não verbais que acompanham a afirmação.
Os componentes não verbais mais característicos do COMPORTAMENTO PASSIVO são: contacto visual evasivo e expressões faciais, que podem ir desde o erguer as sobrancelhas ao riso e piscar de olhos; gestos tais como torcer as mãos, agarrar a outra pessoa ou afastar-se dela, curvar os ombros, tapar a boca com a mão, ou, duma maneira geral, gestos nervosos que distraem o ouvinte do que o emissor está a dizer; postura corporal rígida; o tom de voz pode ser melífluo ou suave e o padrão de discurso é geralmente hesitante e cheio de pausas. Em geral, os componentes não verbais da atitude passiva exprimem fraqueza, ansiedade, desculpa ou auto-denegrição. Reduzem o impacto do que está a ser dito verbalmente, razão esta, precisamente, pela qual as pessoas que temem agir assertivamente os usam. O seu objectivo é suavizar o que está a ser dito de forma a evitar qualquer conflito com as outras pessoas.
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Os indivíduos podem exibir, para além dos referidos, outros comportamentos não verbais igualmente importantes.
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Em cada exemplo que se segue a primeira resposta é passiva, a segunda é agressiva e a terceira é assertiva.
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1."Está bem eu faço o trabalho... Imagino que lá terá as suas razões para me pedir que o faça, mesmo não se relacionando com a área que me foi atribuída. Suponho que não admite a possibilidade de me dispensar desta vez?...
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B) RESPONDER A ALGUÉM QUE ACABOU DE FAZER UM COMENTÁRIO SEXISTA.
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2."Quem é que você pensa que é? Um garanhão?”
3."Francamente acho que esse comentário é humilhante para ambos”.
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C) RECUSAR REPETIR NUM JANTAR EM CASA DE AMIGOS
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2."Adoras ver-me engordar!"
3."A comida está óptima, mas não quero mais, obrigada."
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Paralelamente, muitas pessoas agem passivamente com a convicção de que ao exibirem este tipo de comportamento estão a ser polidas e delicadas podem ter aprendido que não é correcto terminar uma conversa telefónica quando foi a outra pessoa a fazer a ligação, discordar de alguém mais velho, recusar uma bebida numa festa, concordar com um cumprimento, fazer um auto-elogio, etc.
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Vulgarmente, receiam perder a amizade ou aprovação das outras pessoas, que os outros as considerem disparatadas ou egoístas, que se zanguem ou as rejeitem; receiam também ferir os sentimentos dos outros ou prejudicar gravemente as suas vidas.
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Certas pessoas acreditam que, ao serem passivas, estão a ajudar os outros. Na realidade, estão sim a "salvar" alguém que não necessita de ajuda, sacrificando para tal as próprias necessidades.
Quando se ajuda genuinamente alguém, o comportamento desta pessoa modifica-se no sentido positivo e, a dado momento, deixa de necessitar de apoio.
Ao "salvarmos" alguém, acabamos por nos transformar em vítimas, e posteriormente assumir o papel de juízes, enquanto que a pessoa que recebe esse apoio continua a agir da mesma forma. Vejamos um exemplo que clarifica o que acabamos de expor:
"Um homem, viciado no jogo, ao longo de anos pede dinheiro emprestado à irmã, até lhe dever uma grande quantia. A sua situação é cada vez mais dramática: as dívidas de jogo põem-no em risco de ser preso, a menos que...a irmã lhe empreste mais dinheiro. A irmã aos poucos transforma-se numa vítima: sente-se usada, sem saída, acaba por ter problemas conjugais e dificuldades económicas como resultado da "ajuda" que dá ao irmão. Ocasionalmente, sente-se saturada e transforma-se no "juiz" do irmão, atacando-o agressivamente pelo seu comportamento. No entanto, sempre que ele lhe torna a pedir "ajuda" ela "salva-o" novamente. O ciclo vicioso perpetua-se."
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Duma forma geral, o objectivo de quem age passivamente é agradar aos outros e evitar o conflito a todo o custo. Mesmo quando a passividade tem por custo a integridade pessoal, as suas consequências imediatas podem ser muito gratificantes para a pessoa em causa: esta atitude permite-lhe evitar ou fugir aos conflitos geradores de ansiedade. Por exemplo, mesmo quando os comportamentos passivos dum homem são encarados pelos outros como "femininos", esta punição pode não ser suficientemente forte para contrabalançar o alívio de tensão que ele sente quando evita potenciais conflitos, agindo passivamente. E por isso continua a optar por este tipo de comportamentos.
Para além disso, os indivíduos são encorajados a serem passivos: recebem frequentemente elogios pela sua generosidade ou feminilidade, por serem tão bons amigos, filhos ou estudantes e por serem tão calmos, subservientes e agradáveis, não causando problemas a ninguém.
A longo prazo, no entanto, uma pessoa que é frequentemente passiva sente a sua auto-estima progressivamente mais baixa e sentimentos de mágoa e zanga cada vez mais intensos. O resultado é então uma maior tensão interna.
Quando esta tensão é sistematicamente reprimida, porque o individuo continua a agir passivamente, podem desenvolver-se problemas somáticos tais como dores de cabeça, perturbações gastrointestinais, e por vezes até mesmo depressões. Por outro lado, certas pessoas interessadas em desenvolver relacionamentos íntimos caracterizados pela expressão honesta de pensamentos e emoções, podem afastar-se ou nem sequer iniciar uma relação com alguém passivo. Outras pessoas, com sentimentos de culpa por, inadvertidamente, se utilizarem da passividade de alguém, podem acabar por se afastar de indivíduos passivos. Por ultimo, embora inicialmente se possa ter pena da pessoa passiva, essa pena normalmente acaba por se transformar em irritação e, finalmente, em desprezo e falta de respeito.
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V-MOTIVOS PARA AGIR AGRESSIVAMENTE E CONSEQUÊNCIAS DESSA ACÇÄO
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As formas subtis como a agressividade se relaciona com a passividade merecem ser analisadas em detalhe.
A agressividade pode surgir numa pessoa que durante muito tempo foi passiva, permitindo que os seus direitos e sentimentos fossem desrespeitados.
Como resultado, a pessoa vai acumulando sentimentos de mágoa e zanga até ao momento em que se sente com direito de expressar essas emoções e defender agressivamente os seus direitos.
Noutros casos, o individuo permite, por passividade, que os seus direitos sejam desrespeitados, de que resulta um crescendo de mal entendidos. A dado momento explode e exprime os seus sentimentos agressivamente, esperando que a outra pessoa se sinta culpada e se torne submissa. Em vez de solicitar directamente afecto ou deliberadamente mostrar a sua vulnerabilidade, o que incentivaria o relacionamento interpessoal íntimo, a pessoa utiliza a agressividade como uma espécie de instrumento de manipulação da intimidade emocional.
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Outra relação subtil entre a agressividade e a passividade, observa-se em indivíduos que agem passivamente face a pessoas de maior estatuto e poder e que no entanto se exprimem agressivamente com as de estatuto inferior.
Por último, agressividade e passividade relacionam-se na medida em que ambas envolvem a negação de direitos pessoais.
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Como se sabe, o nosso comportamento é mais facilmente influenciado pelas suas consequências imediatas. E as consequências mais imediatas do comportamento agressivo são positivas, enquanto que as a longo prazo são negativas. Os resultados positivos imediatos do comportamento agressivo incluem alívio emocional, obtenção de alguns objectivos e satisfação de necessidades sem experimentar directamente as reacções negativas dos outros. As consequências negativas a longo prazo incluem a perda ou impossibilidade de estabelecer relacionamentos íntimos e a sensação de que é necessário estar permanentemente alerta contra os ataques dos outros.
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Como vimos, a principal razão pela qual agimos frequentemente de forma passiva é não querermos perder a aprovação dos outros. De certa forma é como acreditar que tal é imprescindível ao nosso bem-estar e satisfação pessoal.
Contudo, o comportamento passivo não nos garante obter a aprovação dos que nos rodeiam: os outros podem ter pena em vez de aprovarem quem exibe comportamentos passivos, e esta pena pode acabar por se transformar em irritação e finalmente em desprezo.
A principal razão para agir assertivamente é que esta forma de actuar aumenta a nossa própria auto-estima. Uma segunda razão reside no facto do comportamento assertivo eventualmente dar origem a uma maior auto-confiança, a qual pode diminuir a necessidade de aprovação por terceiros – uma vez que aumenta a auto-apreciação . Em terceiro lugar, embora por vezes os outros desaprovem o comportamento assertivo, geralmente respeitam e admiram aqueles que são responsavelmente assertivos, demonstram respeito por si próprios e pelos outros, têm coragem de defender os seus direitos, e lidam com os conflitos de forma directa e justa. Por último, o comportamento assertivo mais frequentemente do que o passivo – permite-nos satisfazer as nossas necessidades e ver respeitadas as nossas preferências.
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O grande receio das pessoas frequentemente agressivas é, como vimos, tornarem-se vulneráveis e perderem o controle sobre os outros. É como acreditar que só se pode sobreviver se se for invulnerável e capaz de dominar as outras pessoas e que isso só é possível sendo agressivo, ou ainda, que a agressividade garante um controle satisfatório sobre os outros, quando afinal as pessoas, sob pressão, só aparentemente concordam com o agressor, acabando geralmente por sabotar o controle que este pretendeu exercer.
A principal razão para que uma pessoa aja assertivamente em vez de agressivamente, é que esta forma de actuar aumenta o seu próprio auto-controle.
Uma segunda razão, reside no facto de a asserção eventualmente resultar num aumento dos sentimentos de auto-confiança, o que por sua vez reduz a insegurança e vulnerabilidade. Em terceiro lugar, e muito importante, o comportamento assertivo, e não a agressividade, resulta em relações mais próximas e emocionalmente satisfatórias. Uma quarta razão é que, embora através do comportamento assertivo nem sempre consigamos alcançar os nossos objectivos e "vencer", a assertividade maximiza as probabilidades de que ambas as partes possam, pelo menos parcialmente, satisfazer as suas necessidades e atingir os seus objectivos.
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(Adaptado por JAS Tavares aqui)