sábado, 27 de fevereiro de 2010

Mães e Pais, talentos iguais

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Quando se fala de homens que assumem as suas responsabilidades como pais ou parceiros -no que toca à manutenção geral de uma casa e família- ainda se assiste a um clamar de vozes a anunciar a sua raridade e um louvar aos que o fazem, como se ao fazê-lo fossem além do que se deve esperar de um homem.
Mas este é um caso em que me parece que a diferença entre homens e mulheres é um aspecto menor -homens e mulheres lidam com estas tarefas de maneiras diferentes, mas as mulheres também lidam com elas de maneiras diferentes entre si. Como os homens entre si.
Mais que acusar ou condenar os homens que não assumem as suas responsabilidades -ou aqueles que acham que ao fazer alguma tarefa doméstica estão apenas a "ajudar" (partindo do princípio de que a responsabilidade é totalmente feminina e a sua contribuição é uma "dádiva")- acho que as mulheres deveriam olhar para si mesmas e perceber de que maneira estão a contribuir para que este tipo de situação se instale desde sempre.
Já sabemos que as gerações anteriores funcionavam de maneira diferente e não é fácil conseguir mudar as mentalidades com a rapidez com que mudam as circunstâncias. Muitas mãezinhas amorosas educaram os seus filhos sem exigir deles qualquer tipo de contribuição ou mesmo reconhecimento pelo colo, casa, comida e roupa lavada -ao contrário do que faziam com as filhas.

E se focarmos no agora: quantas continuam a fazê-lo? Quantas mulheres não reclamam da diferença patente na maneira como foram educadas, mas permitem que a tradição se repita em sua própria casa e sirva de exemplo aos meninos/homens que estão agora a educar?
E quantas, desde o princípio da relação, não afastam e desautorizam os seus homens, ao menosprezar a maneira deles de fazer as coisas enquanto se arrogam um exclusivo e indiscutivel talento natural para as lides domésticas? É uma maneira de (não) educar também...
Se os homens devem participar, deixem-nos fazer as coisas à sua maneira, deixem-nos aprender sozinhos. Principalmente quando um bebé pelo qual os dois são responsáveis, passa a fazer parte da família: uma fralda menos mal posta, uma comida menos mal conseguida, não é mais importante que o direito do pai a participar.

E há muitos pais que são melhores do que algumas mães o são. Cabe aos homens alimentar esse BRIO em serem pais presentes e insubstituíveis. Criar laços exclusivos também com os seus filhos, descobrir afinidades apenas suas, criar linguagens e cumplicidades únicas.
Em vez de se acomodarem com o "deixa estar que eu faço isso melhor que tu" de algumas mulheres/mães, aceitando a preguiça e a frustração consequentes e afastando-se emocionalmente dos filhos (e da família) cada vez mais...
...e isto veio a propósito deste artigo (mas não só): 

"O engenheiro informático Frederico Carneiro, 39 anos, sentiu-se um extraterrestre da primeira vez que pediu a licença de paternidade. Ia substituir a mãe depois do nascimento do terceiro filho. "Mas é você quem vai ficar a tomar conta da criança?", perguntaram-lhe, pasmados, no balcão da Segurança Social. Constança Ferreira, 30 anos, também não esquece o que ouviu quando explicou que seria o marido, Carlos Pereira da Silva, 32 anos, a gozar a licença. "Olhe que é obrigada a ficar as primeiras seis semanas em casa", recorda. "Falavam como se fosse largar a minha filha à porta da igreja."
Depois das tais seis semanas, obrigatórias por lei, Constança voltou ao trabalho e a vida do casal transformou-se numa "ginástica". Ela saía de casa presa ao relógio: só podiam passar três horas até regressar para amamentar a filha Teresa, hoje com três anos. Assim que pressentia atrasos, Carlos preparava-se para a solução de emergência: os biberões no congelador. Sempre que a consultora de comunicação se tinha de deslocar para congressos fora de Lisboa começava a tour pela estrada fora: a filha e o pai também iam. "Foi uma correria, mas com uma grande recompensa", recorda Constança, enquanto Teresa reclama a atenção com uma minúscula chávena vazia que anuncia ser um café.
Carlos ficou cinco meses com Teresa e gostou tanto da experiência que a repetiu há oito meses, quando nasceu Afonso. "Se vierem mais filhos, faremos o mesmo." Como Constança tem um emprego com horários menos rígidos, o casal decidiu logo durante a primeira gravidez que a licença seria gozada pelo pai, jornalista. Queriam evitar que fosse "mais um pai a partir das dez da noite". "Foi uma experiência incrível: o poder assistir à primeira fralda, à primeira papa", conta Carlos. "Com a mãe é tudo mais natural, há um vínculo carnal. Os homens precisam de conquistar essa união."
O presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria, Luís Januário, confirma que "a presença do pai nos meses pós-parto ajuda a reforçar o vínculo à criança, que não é tão natural como com a mãe, que amamenta". Um pai "terá mais dificuldades se só entrar na vida do bebé quando ele começar a falar", sublinha. O pediatra reconhece que estes casos são raros porque "ainda existem muitos receios": os pais temem uma inversão dos papéis na família ou, com frequência, são as mães que, "por comentários exteriores alimentam um sentimento de culpa". O pediatra rejeita: "Não vejo nenhum perigo nem razão para culpas. Não se trata de colocar a mãe num lugar subalterno, mas sim de dar a oportunidade aos dois de viverem aquela experiência por inteiro."
Frederico Carneiro ficou três meses em casa com o terceiro filho, Pedro, enquanto a mulher ia trabalhar. "Dava banho, passeava com ele, tinha tempo para todas as brincadeiras, desde a guerra das almofadas aos puzzles", conta. Acompanhar os primeiros meses do bebé não foi a única vantagem que retirou da experiência. Pela primeira vez pôde dedicar-se por completo aos três filhos. "Ia levá-los e buscá-los à escola de bicicleta."As aulas dos mais velhos, de sete e oito anos, terminavam às 16h30, mas Frederico costumava chegar mais cedo para brincar com eles no recreio.
"Com o nascimento do Pedro conseguimos passar mais tempo juntos. Favoreceu a união familiar", sublinha o engenheiro. A psicóloga infantil Helena Marujo concorda e reforça: as mulheres precisam de partilhar estas tarefas para os maridos entenderem as atitudes delas. "Conheço um pai que quando chegava a casa no final do dia se irritava porque a mulher estava de pijama", conta. "Agora que foi a vez dele de ficar com o bebé disse que a compreendia perfeitamente." Além disso, pais e as mães têm formas diferentes de educar. Esta opção permite conciliar os dois estilos, acrescenta a psicóloga. "Não queremos um pai igual à mãe, queremos um pai igual a si mesmo."  (por Cláudia Garcia e Silvia Caneco -fonte i online)

Mais sobre pais atuantes, filhos e educação aqui e aqui e aqui.e aqui..

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Moms just wanna have fun

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Dançar à tarde

Preparávamo-nos para fazer a viagem de regresso, depois de um final de ano agitado, quando vimos uma pequena multidão à porta de uma discoteca. O relógio marcaria, seguramente, 15 horas e notava-se pela fauna presente que uma parte ainda não tinha ido à cama e a outra tinha acordado há pouco tempo. Era um domingo e a faixa etária dos presentes não andaria muito longe dos 30 anos. Nessa época, em Portugal as matinés destinavam-se aos mais novos que não conseguiam ainda entrar nas discotecas de adultos. No caso de Madrid, porém, tudo era diferente._Os crescidinhos é que procuravam ou prolongar a noite ou começar a sessão com uma tarde de pista de dança e de copos.

Lembrei-me desta história a propósito de alguns casais que vou encontrando e que lamentam não conseguir sair mais à noite por causa dos filhos e do emprego. Dizem eles que é impossível ou muito difícil deixar as crianças com alguém responsável, mas que os pais deveriam ter o direito a sessões de copos e de dança.

Não creio que essa pretensão vá ficar muito tempo sem resposta se os empresários do ramo estiverem devidamente atentos. Quem se aventurar por fazer matinés aos sábados ou aos domingos terá inevitavelmente sucesso. É claro que à porta terá que existir um letreiro a explicar que a festa se destina a maiores de 21 anos. Não deixaria de ter uma certa piada ver a rapaziada madura a divertir-se à tarde enquanto a noite ficaria para os mais novos, além, obviamente, dos entradotes mais persistentes. As vantagens das matinés para adultos são evidentes: não estão tão cansados; há sempre alguém que fique com os filhos; não há tantas operações stop; e, claro, não haveria crianças na pista de dança. Os convites para as ditas festas, além de serem divulgados nas redes sociais, seriam também distribuídos nos consultórios de pediatria onde os pais levam as crianças...

Gozação à parte, se pensarmos que no dia 14 de Fevereiro entramos num restaurante e ficamos com a sensação de estarmos nalguma reunião da Igreja Universal do Reino de Deus, por que razão os paizinhos não podem ter direito ao divertimento?

(fonte SOLonline)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sem entrega não há vida

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Pessoas que não se entregam vivem relações superficiais e sem graça
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A entrega, o dar-se a conhecer, é muito importante para o crescimento tanto dos companheiros quanto da relação. Mas existem pessoas que, por medo ou por egoísmo, escondem do outro os próprios sentimentos. Assim, não se envolvem e acabam por viver uniões sem vida, que não se sustentam. Como controlam tudo e não se arriscam, também dificilmente aprendem a amar.
Há várias razões para que alguém receie entregar-se, como o medo de sofrer. Mas existem aqueles que, egoístas, evitam a entrega manipulando e controlando o parceiro.
As nossas ações são motivadas por pensamentos conscientes e inconscientes, por sentimentos e emoções. Alguns, como respeito e ternura, são considerados "positivos"; outros, como ciúme e raiva, são considerados "negativos". Todos contribuem para relações vivas e dinâmicas.
Quando não há entrega, a pessoa "esconde" atitudes e pensamentos tidos como negativos ou que depõem contra si. Se os expõe, fá-lo de modo a culpar o outro por eles. É o que ocorre quando alguém diz: "Tu dás-me raiva", ou "Tu fazes de tudo para me provocar ciúmes!"
Quem se entrega responsabiliza-se por atitudes, ações e sentimentos manifestando-os sempre que necessário para a saúde da relação. Assume o que é virtuoso e o que não é. Dá-se a conhecer. Se um homem assume que é ciumento e que o seu jeito de interpretar e lidar com os fatos pode ser mau para a união, dirá algo assim à namorada: "Tenho ciúmes quando te ouço falar com Fulano ao telefone. A minha cabeça cria fantasias sobre vocês, tenho raiva e vontade de brigar contigo. Gostaria de não me sentir assim, tento evitar estes pensamentos, mas sentiria-me bem melhor se me ajudasses. O que podemos fazer a respeito disto que eu sinto?"
Neste caso, não culpa a mulher pelo que pensa e tem vontade de fazer. Não a critica nem toma uma atitude unilateral. Sabe que o ciúme pode ser fruto da sua maneira de ver as coisas. Ao assumir-se assim, ele entrega-se. Coloca parte de si nas mãos do outro, faz um investimento afetivo. Como na área financeira, os investidores afetivos não gostam de correr riscos desnecessários, por isso quem se entrega, compromete-se e espera compromisso da outra parte.
Se a mulher for egoísta e manipuladora, não quererá envolvimento. Controlará a própria entrega "seleccionando" o que dá a conhecer. Mostrará o que não a compromete. Também pode manipular a entrega do namorado para não se sentir ameaçada e pressionada a expor-se mais do que gostaria.
Isso cria o clima de desconfiança que caracteriza a "não-relação" superficial e morna que não se sustenta. Egoístas não querem relações consistentes, assustam-se com o compromisso, temem perder uma ilusória liberdade. Digo ilusória porque alguém que não se permite a entrega está encarcerado em si. Quem teme não ser aceite não é livre, não "se solta".
Pessoas assim costumam dizer que desejam só "o lado bom" das relações, por isso ficam no meio termo: não se entregam nem rompem. Não estão no branco nem no preto. Ficam no cinza, sem vida, sem a intensidade das emoções. Quando a relação se constrói pelo investimento de ambos, tem crises como qualquer outra, mas o casal não teme momentos difíceis, tem confiança na parceria.
A entrega é uma atitude, é acreditar em si e apostar no outro. Mas, dirá o leitor, como apostar no que é desconhecido? É verdade. Temos medo de sofrer e receamos entregar-nos a alguém que não conhecemos e que pode nos magoar. Mas se não enfrentamos o medo, como podemos saber se a pessoa que escolhemos é confiável? Se não nos entregamos, porque esperamos a entrega do outro, como podemos ser valorizados? Se não assumimos riscos e ousamos na medida da nossa capacidade de suportar o sofrimento, como vamos valorizar a entrega do outro? De que outra forma aprenderíamos a amar?
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